Bob Dylan teve uma paixão não correspondida pela francesa Françoise Hardy

Em 2018, Françoise Hardy foi procurada por um casal de americanos que, no inicio dos anos 60 possuíam, um café no Village, em Nova Iorque. Um jovem, e ainda pouco conhecido, artista de folk music, costumava passar horas escrevendo no café. Era Bob Dylan. O casal guardou alguns desses escritos. Entre os papéis havia rascunhos de cartas para a cantora francesa Françoise Hardy, paixão platônica de Dylan que lamentava não poder conhecê-la pessoalmente, pela distância que os separavam.
Bonita, carismática, elegante, de visual andrógino, muito antes de virar moda, e ar aristocrático, embora viesse de família de poucas posses, Françoise Hardy, estourou nas paradas francesas, em1963, com 18 anos. Tornou-se estrela pop da noite para o dia, com canções suaves e melancólicas. Confessava que sua voz era limitada, e que o motivo de sua longeva carreira devia-se ao talento para escolher repertório.
Em 1964, Bob Dylan revelou publicamente seu interesse por Françoise Hardy publicando na contracapa do seu álbum de 1964 um poema escrito para sua musa francesa. Dylan  a conheceria pessoalmente na passagem por Paris da histórica e polêmica turnê europeia de 1966.

A cantora detalha o encontro e sua autobiografia. Em 1966, Bob Dylan se apresentou pela primeira vez em Paris. Françoise Hardy era fã e ficou ansiosa pra ver o show. Estava na plateia, e não gostou da primeira parte do concerto. Houve um intervalo, e alguém chegou pra ela e lhe disse que Dylan avisou que só voltaria ao palco e Françoise Hardy fosse até seu camarim. Ela foi, e a impressão não foi das melhores: “Fiquei assustada com a magreza dele, seu rosto cadavérico, e suas unhas demasiadamente compridas. Era óbvio que ele estava metido em problemas, e quase morre pouco depois num acidente de motocicleta do qual levou meses para se recuperar

Apesar da minha visita, a segunda parte do show não foi melhor do que a segunda. Logo em seguida acabei com outros artistas numa suíte no George V, me perguntando o que fazia ali e me sentindo culpa por ter deixado Jean Marie sozinho (seu namorado na época). Enquanto estávamos feito uns bobocas em pé naquela suíte esperando que ele aparecesse, Dylan abre a porta do seu quarto e me convida a entrar. Seu novo álbum ainda não tinha sido lançado na França, e ele me presenteou com a audição da primeira prensagem de Just Like a Woman, que se tornou mina música de cabeceira, assim como I Want You.

Me disseram que as duas únicas pessoas que ele queria ver em Paris era Brigitte Bardot e eu. Também soube que ele dedicou um poema para mim, mas a ideia de que ele estaria me mandando um recado através de uma canção sua nunca me passou pela cabeça. Nunca mais nos vimos novamente”. O disco a que se refere é Blonde on Blonde.

Françoise conta que entendeu que a escolha das canções como uma cantada, mas se concentrou nas músicas. Nunca ouvira nada igual, sobretudo Just Like a Woman. Numa entrevista em 2020, ao The Guardian ele disse que ficou comovida com o teor romântico das cartas de Dylan, mas nunca revelou o teor das missivas.

OUTROS
Bob Dylan não foi a única das altas patentes do rock a tentar conquistar a bela francesa. Mick Jagger afirmou que a considerava a mulher ideal. Os Beatles também se enfeitiçaram pelo charme de Françoise, que foi a um jantar num clube com Paul McCartney e George Harrison. Mas os galanteios dos ingleses não surtiram efeito. Assim como os de David Bowie, Nick Drake, e possivelmente dos futuros Led Zeppelin, Jimmy Page e John Paul Jones, que tocaram na disco que Françoise Hardy gravou em Londres, em 1964. 

Embora fosse um dos símbolos da ebuliente década de 60, e fizesse parte a realeza pop, mesmo morando na França, Françoise Hardy não se pautava pela cartilha do sexo, drogas rock and roll. Quando caiu no centro do furacão, vendendo dois milhões cópias do compacto com Tous Les Garçons et Les Filles estava com 17 anos. Esteve nas festinhas, mas não usou drogas, não participou de contendas sexuais, e bebeu com o máximo de moderação. Em sua autobiografia, de 2008, garante que em toda a vida só ficou bêbada uma ou duas vezes.

No mesmo livro, ela conta que foi convidada por Brian Jones para visita-lo em seu apartamento. Era fã dos Rolling Stones e aceitou o convite. Quando chegou ao apartamento encontrou Brian e Anitta Pallemberg. Desconfiou que o casal pretendia fazer sexo a três, pelos olhares que trocaram. Quando acenderam um baseado e ofereceram um tapa, ela desconversou e saiu de fininho. Passava por alguém senhora de si, mas se revela tímida e insegura. Quando foi modelo da Vogue namorou firme com Jean-MariePérrier, fotógrafo da revista. Mas toda as vezes o namorado saía para fotografar uma modelo, achava que iria ser trocada por ela.

Seu único hit na Inglaterra foi It Hurts to Say Goodbye  (Dói Dizer Adeus, ou Comment te Dire Adieu, no original). A canção é assinada por Serge Gainsbourg, feio, alcoólatra e criador de confusões, que namorou com algumas das mulheres mais deslumbrantes da França. Ao que tudo indica, não com Françoise Hardy. Mas foram bastante amigos, e ela passou por micos, como vexames em entrevistas, brigas em bares, numa delas ele bateu com um cinzeiro na cabeça de um cliente, que reclamou dos seus arroubos. Com câncer de fígado, ignorava a proibição médica de beber e fumar. Ela conviveu com Gainsbourg quase que diariamente até a sua morte em 1991.

O cantor e ator Jacques Dutronc, cobiçadíssimo astro francês, tão bonito quanto mulherengo, foi o relacionamento mais duradouro de Françoise Hardy, e pai do seu filho único, Thomas, que se tornou um também um astro da música, cantor e guitarrista. Namoraram, entre idas e vindas, de 1967 até 1988 (casaram-se em1981). As incontáveis puladas de cercas de Jacques levaram Françoise a se separar dele, mas nunca legalmente. Conviveram civilizadamente até o final da vida dela.

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑