Os Baobás e o festival que plantou a semente da psicodelia na música brasileira

Os Baobás foi dos primeiros conjuntos (o termo banda somente seria fixado no final dos anos 70) de rock brasileiro a não seguir a linha bobinha infanto-juvenil (“Você é meu tijolinho/você é meu tijolão”, “Gasparzinho, fantasminha camarada/que só quer com as pessoas conversar”). Gravavam em inglês, ou arriscavam versões de canções nada convencionais, como Paint it Black, dos Rolling Stones. Seus integrantes eram adolescentes a par do que rolava na cultura pop, e entraram em cena exatamente quando os festivais de música popular chegavam ao ápice, o tropicalismo resgatava a MPB do beco sem saída em que se metera, e a Jovem Guarda fechava as portas.

Antes de o tropicalismo atentar para os Beatles, e a nova ordem do pop rock nos EUA e Europa, Ronnie Von, garoto classe média alta, com acesso às informações privilegiadas, não apenas as trazia para sua música, como influenciava outros garotos. Foi Ronnie que batizou o trio Rita, Arnaldo e Sérgio de Mutantes, e deu o nome a Os Baobás, pinçado de O Pequeno Príncipe, de Sant-Exupéry.

No I Festival Universitário de Música Popular Brasileira, em 1968, Os Baobás defenderam O Tigre, de Marcio Tadeu. Felizmente para eles o festival aconteceu em setembro. Três meses mais tarde, o país sob o tacão do AI-5, seus membros poderiam ser enquadrados pelos militares, e fazer companhia a Caetano, Gil e demais presos políticos. Porque Marcio Tadeu botava pra quebrar. Apareceu usando uma camiseta com a imagem de Che Guevara estampada, arrebanhou a maior torcida do festival (do qual Alceu Valença participou), também com Che nos cartazes. Os Baobás entraram no clima da apresentação com roupas psicodélicas, seja lá o que isso possa ser. A canção ficou em segundo lugar.

A aproximação com Ronnie Von levou o Mutantes a se tornar um quinteto, admitindo o baterista Dinho, que tocava em Os Bruxos, grupo que acompanhava Ronnie Von, e Liminha, que tocou com Os Baobás, como baixista. A título de curiosidade, nesse festival a influência do tropicalismo mostrou-se eficiente entre os estudantes. As concorrentes que levaram o primeiro e segundo lugares trilhavam claramente a estética, ainda se sedimentando, do tropicalismo.

O Tigre foge ao lirismo, o romantismo da música popular, o autor Marcio Tadeu, 19 anos, escreveu uma letra obviamente calcadas em Caetano Veloso: “Ele é Coca-Cola, ele é ping-pong/ele é bang-bang/Coca-pong/bang-cola, ping-cola/bang-pong/Coca-bang/cuidado/o tigre também se disfarça/em uma cápsula de vodca”. Já a vencedora, Que Bacana, de Richard Chemtob Carasso, defendida por Suely e chegava a citar o autor de Alegria Alegria: “Ponho um disco de Caetano Veloso/leio um gibi é gostoso/que bacana”, defendida por Suely e Eduardo e seus Menestréis. Suely formaria, ainda em 1968, um dos primeiros grupos psicodélicos brasileiros, Suely e Os Kanticus, que gravaria Que Bacana, com Lanny Gordin na guitarra.

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