Raul Moraes, morto há 86 anos, é o autor do primeiro samba gravado, quatro anos antes de Pelo Telefone

Pelo Telefone (Donga/Mauro de Almeida), lançado em 1917, é considerado, oficialmente, o primeiro samba gravado. Mas não é samba, é um maxixe. O que não é motivo de discórdia, porque na segunda década do século 20 o que hoje conhecemos como samba (ou conhecíamos, tanto que o gênero foi deturpado) ainda tomava forma, e só se definiu no início dos anos 30. Pode se discordar de ter sido a primeira música brasileira gravada com o nome “samba” designando o gênero no rótulo do disco.

Yá Yá me Diga, do recifense Raul Corumila Moraes foi lançada em 1913, e no selo do bolachão de carnaúba está a palavra samba sob o título da música. Foi lançada por Geraldo Magalhães, e conjunto, pela gravadora Phonix Ele integrava o duo Os Geraldos, para o qual Raul Moraes foi pianista, quando morou, por doze anos, no Rio Grande do Sul. Foi, pois, o primeiro autor pernambucano com música gravada. Um samba, embora esteja mais para uma marcha nortista, meio polca.

Raul Moraes voltou a morar no Recife em 1922. Durante 16 anos ele foi um dos mais prolíficos e atuantes autor e músico da cidade. Aprendeu piano muito jovem, portanto, quando voltou, já era tratado como maestro ou “professor”, requisitadíssimo para as mais variadas empreitadas musicais na capital. Foi famosa na cidade a Charanga Recife dirigida por ele. Compôs em praticamente todos os gêneros populares em seu tempo, do fox, ao one-step, valsa, cateretê, tango brasileiro, e frevos.

Passou à história como autor de frevos. Pois embora Raul Moraes tenha gravado para estrelas do rádio do Rio de Janeiro, como Francisco Alves (que lançou dois frevos dele), pouco de sua produção de meio de ano chegou ao disco. É possível que se seu nome caísse no esquecimento caso não fosse citado na marcha de bloco Evocação, de Nelson Ferreira (lançada em 1956, para o carnaval de 1957). E dos esforços do irmão Edgard Moraes para manter viva a lembrança de Raul.  

Aliás, mais do que o nome, Nelson Ferreira cita também um trecho de uma marcha regresso composta por Raul, para o Batutas da Boa Vista, da qual utiliza os versos: “Adeus, adeus, minha gente/que já cantamos bastante”. A obra de Raul Moraes merecia uma revisitada(terá a família as partituras?), porque ele compôs em profusão.

Pra  se ter uma ideia da compulsividade do compositor, confiram as músicas que ele criou para o carnaval de 90 anos atrás, lista transcrita do jornal A Província:

O sabiá – marcha carnavalesca dedicada às flores do Bloco das Flores

Ela Não me Qué – marchinha dedicada ao mesmo querido bloco

Tamborete – samba, aos marmanjos do Bloco das Flores

Marcha das Flores – ao mesmo

Aguenta firme – marcha rag-time dedicada à valorosa diretoria do garboso Dragões de Momo

Se Tem, Bote – tanguinho dedicado ao brilhante bloco desse nome

Apachinete – marchinha dedicado ao gracioso bloco desse nome

Andorinha – samba carnavalesco dedicado ao Bloco das Flores

Regresso – marcha-recolher dedicada à diretoria desse bloco (a marcha regresso, por si só, merece uma matéria)

Fica aí, pra dizendo (sic) – samba carnavalesco dedicado ao Coronel Pedro Salgado (presidente do Bloco das Flores).

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